Bela Rio ama as músicas com duplo sentido. E o seu nome já sintetiza bem isso. Como uma boa Sul-Mato-Grossense, adora tomar banho de rio e nasceu na cidade de Rio Verde, no Mato Grosso do Sul, a 200 Km de Campo Grande. Com ancestrais nordestinos e
indígenas, Bela nasceu quando a mãe tinha 20 anos de idade e o pai catarinense ganhava a vida trabalhando como peão no pantanal. Deles herdou o gosto pelo rock, a MPB e o violão.
Na chácara onde cresceu, ela cantava e dançava para a família. Como uma boa leonina com ascendente em áries, sempre gostou de atenção e de papo reto. Mas não do machismo enraizado da sociedade pantaneira. “Sou meio como a Guta da novela, que tenta sempre atualizar a mãe sobre o poder das mulheres e a independência”, explica Bela citando a personagem interpretada pela atriz Julia Dalavia na TV Globo.
A cantora veio ao mundo como Isabela Souza de Paula, mas descobriu a sua vocação artística aos 18 anos, quando se mudou para a capital do estado. Cantando covers em barzinhos e nas rodinhas da faculdade, descobriu sua potência vocal com a música sertaneja. Mas foi o cantor Brenno Reis quem disse que o seu tom era perfeito para MPB. Com a ajuda de amigos, ela gravou assuas primeiras músicas e videoclipes. Foi assim que chamou a atenção do produtor Jerry Espíndola, irmão caçula da cantora Tetê Espínola, que a batizou com o nome artístico de Bela Rio.
Em 2019, a jovem começou a escrever letras sobre as belezas Sul Mato-Grossenses. “Na minha música sempre tem pássaros, rios, natureza, porém sem ser no ritmo sertanejo. O meu desejo é mostrar a fauna e a flora do meu estado de um jeito diferente”. Aos poucos, Bela trocou as botas pelo tênis, começou a ouvir rap e a se vestir de maneira mais estilosa. Mudou-se então para Lages (SC), onde ingressou no curso de Medicina Veterinária. Dois meses depois de trocar o calor do Centro-Oeste pelo frio da serra catarinense, a cantora foi contratada pela gravadora Phant Music. “O artista precisa sempre se adaptar.”
Quando se deu conta, estava no estúdio em São Paulo gravando 10 músicas, cinco delas autorais. Dona de um repertório eclético, registrou “Live das estrelas” (um pop rock composto na pandemia), “Se eu te convencer” (sobre amor platônico) e “Bem bolado”, que ela mesma define como “um bolero dançante sobre pessoas que se querem, com uma segunda intenção.”
Daquela mesma sessão saíram a regravação de “Inevitável sim” (de Marcio De Camillo e Jerry Espínola, parceiro da cantora – “eu passo a salada e ele põe o tempero”, brinca – e o pop reggae “Me beija-flor”, uma metáfora sobre a mulher que se torna mãe ainda jovem, que se submete ao homem e fica presa numa relação tóxica por conta da pressão psicológica da sociedade, do companheiro, ou pelo medo de não dar conta. “A minha avó me chamava de beija-flor”, explica a romântica cantora. “Eu sou como um passarinho, que não gosta de ficar preso e preza pela liberdade.”
Ainda nesta primeira leva de músicas estão releituras de artistas veteranos com uma roupagem nova, como Nana Caymmi, Lulu Santos, Almir Sater e Lô Borges. Fã declarada do Clube da Esquina, de Belchior e Rita Lee, a jovem cantora admira a rebeldia, a coragem e o desapego. Da nova geração, Bela escolheu cantar uma canção da Liniker.
A mistura do “antigo” com o “novo” não está apenas no lado artístico da sua carreira. Aos 23 anos, ela vai lançando aos poucos as suas músicas nas plataformas digitais, sempre acompanhadas por videoclipes, buscando também um visual inovador e impactante.
No momento, o principal foco de Bela Rio é conhecer o seu público para se encaixarem e dançarem no mesmo ritmo. Ela também se prepara para encarar os palcos em 2023:
“É claro que eu também sinto medo de errar, de esquecer a letra ou de a voz falhar, porque o medo faz parte. Mas o pessoal da Phant Music me deixa sempre muito tranquila, confortável, à vontade. Essa é a vantagem de estar ao lado de músicos e produtores tão competentes. Estou muito animada para encarar essa jornada com eles.”